A evolução da Avenida da Liberdade, em Lisboa

“Dos Restauradores ao Marquês” é o nome de um projeto de investigação que estuda a evolução urbanística e morfológica desta avenida lisboeta.

Por Pedro Fidalgo*

A – Objecto
A Avenida da Liberdade apresenta-se, desde a sua construção, como a mais importante e prestigiante artéria da cidade de Lisboa, traduzindo-se esse estatuto no uso corrente do termo Avenida para abreviar a sua nomeação. Assim, falar-se em Avenida da Liberdade, ou apenas em Avenida, são alocuções com o mesmo significado, mas em que o recurso apenas ao termo que expressa a função, utilizado no segundo caso, traduz, na sua essência, a primazia e relevância deste espaço no imaginário nacional.

B – Objectivos
O projecto “Dos Restauradores ao Marquês” pretende analisar a evolução urbana da Avenida da Liberdade ao longo da sua existência, num estudo transversal, que considera diferentes vertentes temáticas de investigação, de modo a determinar as alterações arquitetónicas, e morfológicas, por que tem passado esta referência urbanística da cidade de Lisboa, desde a sua inauguração em 1886 (Fig.1).


Fig. 1: Evolução urbanística da Avenida. De cima para baixo, em 1812 (Desenhada por I. Tomkyns); em 1858 (no Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, sob a direção de Filipe Folque); em 1911 (no Levantamento da Planta de Lisboa: 1904-1911); no levantamento digital de 1992, e em 2010 no Google Earth.

C – Sustentação empírica
Este estudo, que recorre às fontes correntes de investigação – leituras bibliográficas, recolha iconográfica, fotográfica, cartográfica, elementos estatísticos, processos de obra ou trabalho de campo, por exemplo – tem, no entanto, como principal suporte empírico uma base de dados, construída a partir de um conjunto de Fichas de Caracterização de Imóveis (FCI).
Esta ficha, que se apresenta em formato reduzido na Fig. 2, permite identificar e caracterizar individualmente cada um dos imóveis que delimitam, ou delimitaram, a Avenida da Liberdade, ao longo da sua existência.


Fig.2: Ficha de caracterização de imóveis (FCI); (Autor: Pedro Fidalgo)

Dentro dos campos de análise que se organizam e distribuem por esta FCI, é referenciada, por exemplo, a localização do imóvel relativamente à planta da Avenida, elementos respeitantes ao processo de obra (nº, data, ou nome do proprietário e autor do projecto), elementos relativos à construção (como nº de pisos, fracções, tipo de utilização, capacidades, estado e grau de conservação, ou materiais de revestimentos de fachadas e tipos de cobertura), ou ainda o desenho do alçado do imóvel, a fotografia mais antiga referenciada e a atual.
A base de dados FCI tem como objetivo imediato reconstruir as transformações dos alçados de conjunto dos diferentes quarteirões da Avenida, desde a sua ocupação inicial até à atualidade.

D.2 – Análise de um quarteirão
Para esta análise foi selecionado o quarteirão com os números 222-240 da Av. da Liberdade (Figs 3 e 4).


Fig. 3: “Quarteirão 222-240” (extracto litografia Ribeiro Cristino).

Fig. 4: Planta do “quarteirão 222-240”.

A partir da análise dos Processos de Obra, e de um conjunto de fotografias, foi possível reconstituir a evolução da ocupação deste quarteirão para os peridos previamente referenciados: 1910-1940-1974-2000-2014 (Fig. 5).


Fig. 5: Evolução do conjunto de alçados do “quarteirão 222-240”.

A análise a este quarteirão permite destacar que dos 9 imóveis existentes em 1910, quatro foram demolidos, subsistindo no entanto os alçados de dois deles.

(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa – e o Jornalíssimo, com coordenação de Ana Paula Pires, Luísa Metelo Seixas, Ricardo Castro e Susana Domingues.

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