Um carrossel movido a pedais
Para a diversão que inventou dar voltas, José Carlos Almeida tem de pedalar. Chega a fazer mais de cem quilómetros por dia sem sair do sítio.
À primeira vista pode parecer um carrossel igual aos outros. Para se perceber o que o torna único é preciso reparar no senhor que está num dos lados da diversão. Pela posição dos braços, imóvel, às vezes até dá a sensação de que José Carlos Almeida está parado, mas não. As pernas estão a mexer. E muito. Se ele não pedalar, o carrossel não anda, pois ali não há nada, mesmo nada, que esteja ligado à corrente.
“Este carrossel só funciona a pedais ou à manivela, mas a pedais é mais fácil e, por isso, quase não uso a manivela”, conta-nos sem sair de cima da espécie de bicicleta em que está sentado. É “mais fácil”, mas não é propriamente fácil: “o esforço que faço é semelhante ao de fazer uma subida em cima de uma bicicleta”, revela.
A força com que tem de pedalar mantém-se praticamente inalterada, quer esteja uma ou várias crianças a andar no carrossel. Bem, é melhor dizermos pessoas, porque há muitos adultos a querem experimentar dar uma volta, apesar de os lugares disponíveis terem dimensões reduzidas.
A diversão suporta até 500 quilos e o engenho montado por José Carlos permite desmultiplicar a força, de modo a que o seu esforço seja constante: “é um sistema mecanizado que funciona graças a correntes, carretes, rodas dentadas”, concretiza.
Demorou um ano a montar o carrossel, na garagem de sua casa, em São Pedro do Sul. Da mecânica à carpintaria, passando pela serralharia, foi ele quem fez tudo. Só pediu ajuda à mulher para a parte da costura. A obra, construída nos tempos livres (José Carlos trabalha como administrativo na Câmara Municipal de São Pedro do Sul), ficou pronta em maio passado.
Desde então, aos fins-de-semana, anda de feira em feira a alegrar a vida de quem com ele se cruza. Há adultos que ficam tão ou mais fascinados do que as crianças. Recorda, há uns meses, a senhora que ficou com lágrimas nos olhos ao ver o seu carrossel: “lembrou-lhe as diversões de quando era pequena e acabou por andar ela e o marido, os dois com 70 e tal anos”.
Num dia bom, chega a levar 600 e 700 “passageiros” a dar voltas. Cada volta dura três minutos e meio e equivale a pedalar uma distância superior a um quilómetro. O tempo é contado de forma, também ela, artesanal, pela ampulheta de madeira colocada em cima da estrutura onde ficam os pedais.
Mas, como o que José Carlos mais gosta é de ver as crianças a divertirem-se, às vezes a ampulheta pára e as voltas continuam. Antes do carrossel, ele já andava nas feiras a vender o artesanato que fazia – miniaturas de casas em xisto e lousa – mas o carrossel está a dar-lhe a volta à cabeça. A tal ponto que pensa tirar uma licença na Câmara só para andar por aí a pedalar.
Nos próximos fins-de-semana podes encontrá-lo nas feiras de São Pedro do Sul, Ovar, Castelo de Paiva, Moimenta da Beira e Coimbra.