A Grande Guerra e o desafio de implementar novas comunicações na frente ocidental
Nada ficou igual no domínio das comunicações quando a I Guerra Mundial terminou, em 1928.
Por Aniceto Afonso (*) – Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Na frente ocidental, as tropas tiveram que optar por uma longa linha de trincheiras, entre a fronteira suíça e o Mar do Norte, como resposta ao poder de fogo trazido para o campo de batalha por várias armas, em especial pelas metralhadoras.
Foram estas condições que impulsionaram os esforços de desenvolvimento de novas técnicas, com o fim último de quebrar o impasse no terreno, onde se conta evidentemente o desenvolvimento de novas armas, como os gases, a aviação e o carro de combate, ou de novas táticas, como o ataque concentrado.
Sem tanta evidência e muito menos conhecidos são os esforços para a implementação de comunicações capazes de responderem às exigências da nova forma de fazer a guerra. Mas esse desenvolvimento foi um facto, e nada ficou igual neste domínio, quando a guerra finalmente terminou em 1918.
Em 1914, os principais meios de comunicação nas unidades britânicas, eram, por um lado, os sinaleiros (nos batalhões de infantaria e nas baterias de artilharia) que se deslocavam a pé, a cavalo, em bicicletas ou motocicletas, e por outro, os telégrafos e telefones por fio, que só funcionavam depois da instalação e lançamento das redes.
Estava em uso também a sinalização visual, como bandeiras, sinais e heliógrafos, que prestavam serviço especialmente durante o dia.
Quanto aos equipamentos sem fios, com o uso do código Morse, eles estavam disponíveis, mas eram ainda muito pesados. As suas redes foram especialmente dirigidas ao suporte de ligações especiais, como as redes de informações, o uso da artilharia pesada, a defesa e a observação aérea, e sobretudo as relações de comando e controle nas grandes unidades.
Ao longo dos anos da guerra, apareceram no campo de batalha novos e muito mais desenvolvidos meios de comunicação, por fio e sem fio, por terra ou pelo ar, complementando e sendo complementados pelos métodos clássicos da transmissão visual, por estafeta ou pombos-correio. Mas, no final, podemos dizer que os métodos prevalecentes e amplamente usados foram o telefone e o telégrafo, a que se juntou crescentemente e em especial no final da guerra, a telegrafia sem fios.
Entretanto, como continuassem a crescer as preocupações com a capacidade de os alemães intercetarem as comunicações telegráficas e telefónicas perto da linha da frente, surgiram alguns dispositivos que, apesar de tudo, não estavam à prova de interceção, incluindo transmissores que utilizavam a terra como condutor, sem necessidade de fios ou cabos (buzzer – telegrafia pelo solo).
Quando se iniciou o ano de 1916, fruto das experiências levadas a cabo na própria frente, surgiu um novo equipamento de telegrafia – o ‘fullerphone’ (projetado pelo Capitão A. C. Fuller), com muito bons resultados. Quase todas as unidades britânicas na frente ocidental passaram a usar estes equipamentos. Este sistema usava a transmissão de impulsos de corrente contínua, que não eram detetados.
Era esta a situação das comunicações na frente ocidental, no seio das forças britânicas, quando se iniciaram, em Portugal, os exercícios de uma Divisão de Instrução destinada a ocupar um lugar na frente de combate, juntamente com estas forças.
É evidente que nem tudo poderia ser do conhecimento dos estados-maiores portugueses, mas grande parte dos exercícios efetuados em Tancos não refletia ainda os ensinamentos que depois vieram a ser adotados, não apenas pelas comunicações no Corpo Expedicionário Português (C.E.P)., mas também na restante atividade das unidades mobilizadas e integradas nas forças britânicas.
Foto: Imperial War Museums/Creative Commons – O ‘Royal Engineers Signals Service’ na Frente Ocidental, 1914-1918
Historia-comunicacoes-IGM
(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa – e o Jornalíssimo, com coordenação de Ana Paula Pires, Luísa Metelo Seixas e Ricardo Castro.