@Kitato: “Não sei se consigo viver sem Instagram”
Eleito ‘instagrammer’ de topo pelo ‘The Huffington Post’, tem uma exposição a solo em Lisboa e esta semana vai fotografar o Museu Berardo.
Ele tem piada a falar. E as fotos dele têm piada. Como ele, como o discurso dele. Assume que é um miúdo de iPhone na mão e que se farta de “brincar” a tirar fotos.
Segui-lo no Instagram é divertido. Mostra-nos um mundo diferente, criativo. Põe-nos a ver as paredes de outra maneira e obriga-nos constantemente a olhar para o chão. Se leres a entrevista até ao fim, vais perceber porquê.
Os números nem sempre dizem muito. Neste caso, os 62789 seguidores que tem na aplicação significam alguma coisa. O ‘The Huffington Post’ considerou-o recentemente um dos dez ‘instagrammers’ mais criativos do mundo. Esta semana, o Museu Coleção Berardo, em Lisboa, faz oito anos e ele participa na festa, num Insta evento, com mais 25 ‘instagrammers’, portugueses e estrangeiros, que vão fotografar o museu vazio e publicar nas suas contas o resultado. Em Lisboa, também, tem a sua primeira exposição a solo, “AKA”, até 2 de julho, n’ “A Pequena Galeria”. Foi por aí que começamos.
Falta só apresentá-lo: @Kitato é Luís Octávio Costa – daí o AKA, jornalista do Público, editor do P3.
JORNALÍSSIMO – O que é que vê quem for à “A Pequena Galeria”, que seleção fizeste tu?
KITATO – Fiz pouco. Aliás, fiz mais de 2700 fotografias desde 2011. A Marta Cruz, curadora da exposição, é que fez o favor de arranjar um fio condutor, uma teoria sobre o Kitato. Diz ela que estas 16 fotografias fazem parte de um “universo mais íntimo, sem filtros, cruas e genuínas”. Acho que o que ela quer dizer é que nestas nota-se menos a marca @kitato, que é um bocado… infantil.
J- Então não se vê que continuas a ser um miúdo com o Instagram na mão? Brincas muito a tirar fotos assim, não brincas?
K – Precisamente. Nesta exposição não vê. Mas brinco muito, verdade.
J – Nalgumas fotos parece que fazes magia. Queres revelar uns truques para te tentarmos imitar?
K – Às vezes penso que distorço um pouco a realidade, inclinando o iPhone para apanhar uma linha diagonal ou usando uma sombra como um obstáculo. Noutros momentos penso que o mundo é mesmo assim e que as outras pessoas é que têm que comprar óculos novos. É uma espécie de ‘Dark City’ em que o tempo pára para alguém retocar a realidade.
J – Desta vez foste a Lisboa, mas o Insta já te tem feito viajar muito, certo? E conhecer gente também…
K – É um dos aliciantes desta rede social, que é diferente das outras redes sociais. Atualmente, para fotografar e para conhecer pessoas, vou ao fim da rua e vou ao fim do mundo — sempre que posso. Qualquer passeio, por mais pequeno que seja, sugere cenários novos. É muito interessante perceber que em qualquer sítio onde vá, como recentemente na Cidade do México, há um amIGo disponível (IG é a abreviatura de Instagram) para me mostrar os melhores locais da sua zona de conforto. As minhas viagens são agendadas em função disso também. Também tenho feito o contrário: ser anfitrião no Porto de pessoas que me seguem no Instagram e que hoje são minhas amigas.
J – Com esta brincadeira as máquinas de fotografar a sério que dantes usavas ficaram de lado?
K – Ficaram. Os fotógrafos profissionais meus amigos costumavam criticar-me por não usar “a máquina a sério”. Agora dão-me os parabéns pelas fotos “tiradas com o telefone”. Nunca irei perceber a vantagem de uma máquina fotográfica que não cabe no bolso e que não está disponível 24 horas por dia.
J – Conta lá então, o que é que o Insta tem de tão especial assim?
K – Tudo. Queres que desenvolva? Para o bem ou para o mal, é uma rede social como as outras. Também lá está o Cristiano Ronaldo e a Cristina Ferreira… Mas é menos intrusiva do que o Facebook. Salvo raras exceções, ninguém vende nada no Insta, ninguém partilha fotos dos outros, ninguém conversa como no cabeleireiro. Cada um faz o que quer da sua rede. E eu deito-me nela para absorver a criatividade e o talento dos outros.
J – Já não vives sem Instagram? Qual foi o tempo máximo que passaste sem postar uma foto?
K – Não sei se consigo viver sem Instagram. Nunca experimentei. Um destes dias tentei não “postar”. Resisti até às sete da tarde. Depois deixei a natureza seguir o seu curso. Não sei se é um vício, porque associo a palavra a coisas negativas. Mas sim, na última viagem ao México acordei todos os dias pelas três da manhã para colocar uma foto no Instagram.
J – O que gostas mais de fotografar?
K – Não sei se sei responder a esta pergunta. Gosto mais de fotografar sítios e pessoas que nunca fotografei.
J – Estiveste no Top 10 do ‘The Huffington Post’. Não te peço tanto, mas podes revelar o teu Top 3?
K – Posso, mesmo correndo o risco de deixar de fora 292 pessoas. @ritacordeiro, @josecabaco e @sejkko.
J – Só mais uma coisa, tens uma fixação por pés, não tens?
K – a) tenho sapatilhas novas,
b) há tanta informação interessante no chão que pisamos como no ar que respiramos,
c) o Instagram também é o nosso diário; e neste momento sinto-me… cabisbaixo,
d) comecei por detestar “fotos de pés”, mas agora adoro um bom e criativo #fromwhereistand.
J – E mais outra: que tens tato a gente sabe, mas Kitato junto vem de quê, onde, porquê?
K – Tato + Takeshi Kitano (realizador japonês). As minhas sobrinhas pequenas chamam-me Kitato e pedem-me para virar as fotos ao contrário.