O complexo processo de escolha do novo Presidente norte-americano
Recorremos a metáforas desportivas para te explicar como é eleito o Presidente dos E.U.A.. Três, dois, um…
Há quem compare as eleições presidencias a uma maratona. Está bem visto: o processo é longo, demora meses e exige resistência por parte dos candidatos.
Mas a escolha do Presidente norte-americano tem, também, o seu ‘quê’ de corrida de obstáculos e de corrida de estafetas.
Obstáculos porque, para chegar ao final, há que superar diferentes etapas. Estafetas porque podemos dizer que, em cada estado, há uma passagem de testemunho, já que os cidadãos não votam diretamente no candidato que querem ver como Presidente – indicam a um representante do estado (os delegados de que te falamos mais adiante) o candidato em quem ele deve votar.
TIRO DE PARTIDA
Vamos, também nós, por partes.
Nos Estados Unidos, há dois grandes partidos: o Partido Democrata (situado mais à esquerda) e o Partido Republicano (mais à direita). Para compreenderes melhor a diferença, recorda este artigo: Por que é que os partidos de esquerda são de esquerda e os de direita de direita.
Cada um dos dois partidos vai escolher qual será o seu candidato a Presidente, de entre vários pré-candidatos. Isso acontece durante as chamadas ‘Primárias’, que arrancaram em fevereiro e terminarão em junho.
Continuando a metáfora desportiva, as ‘Primárias’ são como uma meia-final, em que se determinam os dois candidatos finalistas que disputarão o lugar de Presidente dos Estados Unidos, nas eleições marcadas para 8 de novembro.
O candidato do Partido Republicano será escolhido entre 15 pré-candidatos. Os melhor posicionados são o controverso milionário Donald Trump – já te falámos sobre ele neste artigo -, Ted Cruz e Marco Rubio.
Do lado dos Democratas, Hillary Clinton leva vantagem face aos adversários. Bernie Sanders está no segundo lugar.
Mas, como se escolhem os dois finalistas? Em cada um dos 50 estados do país são organizadas eleições, sendo os cidadãos convidados a votar num dos pré-candidatos de ambos os partidos. Essas eleições são feitas de duas maneiras.
Nuns estados, a escolha do candidato faz-se através de eleições primárias (são convocadas pelas autoridades do estado e os eleitores têm de escolher se votam, com um voto secreto, para eleger o finalista republicano ou democrata, estando impedidos de votar para os dois); noutros estados, realizam-se ‘caucus‘ (organizados pelos próprios partidos, são reuniões públicas em que só os filiados no partido podem votar, sendo que a votação é, neste caso, pública e acontece depois de um debate).
PASSAGEM DE TESTEMUNHO
É aqui que entram os “delegados” – as eleições primárias servem para eleger, em cada um dos partidos, os delegados. É a eles que os cidadãos de cada Estado ‘passam o testemunho’. São os delegados que vão marcar presença e votar nas Convenções Nacionais, de onde sairá o candidato final de cada partido.
A Convenção Nacional Republicana decorre entre 18 e 21 de julho. A Democrata de 25 a 28 do mesmo mês.
Chegaste até aqui? Ainda deves ter muitas dúvidas, mas não desistas que vamos tentar responder. Faz uma pausa e volta!
Prosseguindo com os delegados. O seu número varia de estado para estado e os dois partidos não têm o mesmo número de delegados nas suas convenções.
O número de delegados de cada partido é achado em função dos votos que o partido alcançou nas eleições presidenciais anteriores (não apenas as últimas). Os democratas têm cerca de 4500; os republicanos perto de 2500 delegados. (Ainda há os super-delegados, mas são em menor número e, ao contrário dos delegados, são autónomos na escolha do seu voto. Vamos centrar-nos apenas nos delegados).
A forma como cada pré-candidato do Partido Republicano consegue delegados para lhe darem o voto na Convenção varia, também, consoante o estado.
Enquanto no Partido Democrata, a percentagem de delegados por pré-candidato depende sempre do número de votos que ele recebeu naquele estado (desde que o pré-candidato tenha atingido 15% dos votos), no caso dos Republicanos não é sempre assim. Alguns Estados aplicam outro sistema: o pré-candidato que conseguir a maioria dos votos fica com todos os delegados nesse estado.
EXEMPLO : Suponhamos um estado com 100 delegados. No primeiro caso, nas primárias o candidato x teve 20% do total de votos, logo terá 20 delegados a votar nele na convenção nacional. Já no segundo caso, se o candidato A teve 20% do total de votos, o candidato B teve 30% e o candidato C 42%, como este último venceu por maioria, todos os 100 delegados votarão nele na convenção.
PENÚLTIMO OBSTÁCULO
Pelo menos, a eleição na Convenção é simples: para ganhar aí, o pré-candidato tem de ter mais de 50% dos votos do total de delegados. Daí que, à medida que as eleições se realizam, se vá tendo uma noção de quem vá vencer as ‘Primárias’ em ambos os partidos, consoante os delegados que for somando.
A 8 de novembro, todo os norte-americanos são chamados às urnas para escolher entre os dois candidatos – um do Partido Democrata, outro do Partido Republicano (pode, ainda, haver candidatos independentes) – qual deve ser o novo Presidente dos Estados Unidos, com um mandato de quatro anos, que pode ser prolongado por mais quatro.
Se Hillary Clinton sair vencedora será a primeira mulher a ser Presidente dos E.U.A.. Mas basta ela ser a candidata escolhida pelos Democratas na Convenção para entrar para a História, já que, até hoje, nenhuma pré-candidata chegou à eleição final.
META, PERDÃO, CASA BRANCA À VISTA
Pensaste que já estava tudo explicado? Ainda não! Nem no final há eleições diretas. O candidato que obtiver mais votos no dia 8 de novembro a nível nacional não será, necessariamente, o novo Presidente.
Isto porque, no dia 8 de novembro, as eleições voltam a contar estado a estado e há, de novo, uma passagem de testemunho. Quem vai eleger, de facto, o Presidente é o ‘Colégio Eleitoral’, um órgão em que estão representados todos os estados através de representantes (aqui não se chamam ‘delegados’, mas o processo é semelhante).
Cada estado tem um número determinado de representantes no Colégio Eleitoral, proporcional ao número de habitantes. Sendo que se, no estado x venceu o candidato y, todos os representantes daquele estado irão votar nesse candidato no Colégio Eleitoral.