Panama Papers: às vezes o paraíso transforma-se em inferno

Fazemos-te um resumo do escândalo mundial que envolve fuga ao fisco e lavagem de dinheiro.

O caso tem tudo para ser adaptado ao cinema, como aconteceu com a organização ‘WikiLeaks’, do jornalista australiano Julian Assange. Ou com Edward Snowden, o especialista em tecnologia que trabalhava para a Agência de Segurança dos Estados Unidos, que revelou ao mundo o complexo sistema de espionagem norte-americano.

Tal como os casos de Assange (em 2010) e de Snowden (em 2013), o ‘Panama Papers’ está a abalar o mundo e a marcar a agenda mediática internacional. Envolve, também, fuga de informação e divulgação de documentos secretos – desta vez relacionados com evasão fiscal e negócios ilegais – e afeta a imagem de figuras poderosas, do mundo da política, do desporto, dos negócios, das artes.

No “epicentro” deste caso está um escritório de advogados de um país da América Central: o já célebre ‘Mossack Fonseca’, do Panamá. Onze milhões de ficheiros secretos desta empresa foram tornados públicos.

É desconhecido o nome de quem protagonizou esta fuga de informação, embora se imagine facilmente que só um colaborador poderia ter acesso a documentos tão privilegiados…

Sabe-se, isso sim, que a fonte anónima entregou esses milhões de documentos secretos a um jornal alemão, o ‘Suddeutsche Zeitung’. Este partilhou-os com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, tendo o caso sido revelado por pouco mais de uma centena de órgãos-de-comunicação de todo o mundo no último dia 3 de abril.

Para compreenderes o que está em causa, recomendamos-te a leitura deste artigo, em que explicamos o que são paraísos fiscais e sociedades ‘offshore’ e as vantagens dadas a quem aí deposita dinheiro, muitas vezes de forma ilegal. 

O ‘Panama Papers’ revela os nomes de centenas de pessoas e empresas que, em vários países do mundo, recorriam aos serviços da ‘Mossack Fonseca’ para esconder parte das suas fortunas e, deste modo, escapar ao pagamento de impostos nos seus próprios países.

Nunca é de mais recordar que é graças aos impostos pagos pelos cidadãos que os Estados podem assegurar as políticas públicas de que toda a população beneficia – da construção de estradas ao pagamento de reformas, do funcionamento de escolas e hospitais a subsídios por doença.

A situação é ainda mais grave se pensarmos que, entre os envolvidos neste caso, estão figuras de proa de alguns países, como chefes de Estado e de Governo, de quem se espera uma conduta exemplar.

Na Islândia, os dados revelados levaram milhares de pessoas para a rua a exigir a demissão do Primeiro-Ministro. Sigmunndur Gunnlaugsson, que nunca tinha declarado a detenção de uma sociedade ‘offshore’, acabou por pedir a demissão na sequência do ‘Panama Papers’.

A empresa panamiana encobria fraudes relacionadas com evasão fiscal, mas também com “lavagem de dinheiro”, ajudando a ocultar a proveniência de verbas, conseguidas através de atividades ilegais e corrupção.

Antes de a indústria do cinema se inspirar neste caso real, muito deverá ainda acontecer, à medida que mais informação for revelada pelos jornalistas que estão a estudar os milhões de ficheiros (até agora) secretos.

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