Foz Côa: uma viagem ondulante rumo ao Paleolítico
Aqui, onde o Côa se une ao Douro, por pouco não se encontram dois patrimónios mundiais: o das vinhas e o das gravuras rupestres.
Do terraço da Pousada de Juventude de Foz Côa o cenário é deslumbrante. Quase nos esquecemos do frio, enquanto contemplamos esta paisagem única, cheia de altos e baixos, que não impediu o homem de cultivar vinhas, oliveiras e amendoeiras.
Este ano tem estado frio, muito frio. E com frio as amendoeiras atrasam esse momento único em que se abrem em flor, oferecendo um espetáculo que se prolonga por alguns dias. Este ano, pensa-se que no final deste mês de fevereiro, início de março, as amendoeiras vão voltar a florescer com toda a força e a pintar de branco e rosa todos estes vales.
Se pensares em vir até cá por essa altura, a uma das muitas festas das amendoeiras em flor (em Foz Côa há um famoso desfile etnográfico), considera a hipótese de apanhares o comboio. Todos os anos a CP realiza a Rota das Amendoeiras em Flor, com passeios especiais do Porto até à estação de Pocinho, que fica a escassos quilómetros daqui.
Mesmo sem amendoeiras em flor, há muito para ver (e saborear) em Foz Côa. Depois de tomares o pequeno-almoço na Pousada, podes ir conhecer o centro da vila, onde os deliciosos “almendrados”, bolinhos de amêndoa caraterísticos da terra, felizmente se podem provar ao longo de todo o ano. Encontra-los facilmente numa das pastelarias da rua pedonal de São Miguel, mais conhecida por Rua do Comércio.
Antes do almoço, aproveita para visitar a Igreja Matriz com a sua fachada Manuelina, e as capelas de Santa Quitéria, de São Pedro e de Santa Bárbara. Vale a pena espreitares também a capela Barroca de Santo António, que fica no Parque com o mesmo nome.
Ao almoço, aconselhamos-te uns peixinhos do rio, ou cabrito, ou ainda um dos vários pratos de caça, que fazem parte obrigatória da cozinha desta zona.
O Museu do Côa fica ligeiramente afastado do centro. Encerra às 17 e 30, por isso é bom não chegares tarde. Agora em fevereiro, fecha para almoço, mas às 14 horas reabre. Reserva pelo menos duas horas para o visitares – não te vais arrepender.
Ao chegar serás surpreendido desde logo com o enquadramento do Museu. Se gostas de fotografia, convém teres a bateria da máquina bem carregada porque vai apetecer-te tirar fotos não só ao entono natural (com vista quer para o rio Côa, quer para o Douro), como à espetacular obra arquitetónica que alberga a coleção, idealizada pelos jovens arquitetos Camilo Rebelo e Tiago Pimentel.
Para entrares no Museu, tens de descer uma longa rampa. Dá a sensação de que estamos a entrar numa gruta! Até à descoberta do património do Côa pensava-se que só havia arte rupestre em grutas. Vais saber isto e muito mais no mergulho ao Paleolítico que o Museu proporciona e onde estão reproduzidas algumas das mais emblemáticas gravuras que foram descobertas em pedras ali perto, em diferentes pontos do vale do Côa.
E vais surpreender-te com esta arte dos nossos antepassados, feita com recurso a pedra, madeira e osso, que apresenta já noções como a perspetiva, o volume e até o movimento.
Não te vamos contar muito mais, não queremos estragar a surpresa. Dizemos-te só que as gravuras que ali estão em destaque são do Paleolítico Superior (de há 25 mil a 10 mil anos), mas também da Idade do Ferro (há 2500 anos) e do neolítico (terceiro milénio antes de Cristo). Percebe-se bem por que razão a UNESCO considerou esta área Património Mundial da Humanidade em 1998.
Aconselhamos-te a não deixares Foz Côa sem fazer uma visita às gravuras no terreno, que implicam marcação prévia no Museu do Côa. Há três núcleos visitáveis e o passeio, acompanhado por guia, é uma experiência inesquecível. Vai-se de jipe e obriga depois a uma caminhada, maior ou menor, consoante o núcleo que decidas visitar: Canada do Inferno, Ribeira de Piscos ou Penascosa. Neste último realizam-se, por vezes, visitas noturnas às gravuras.
Dito isto, resta-nos apenas desejar-te uma boa viagem no tempo.
Preço por pessoa/noite: a partir de €11, com pequeno-almoço incluído.
(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Jornalíssimo e as Pousadas de Juventude. Todas as terças publicamos um artigo sobre uma Pousada diferente.