Raquel Carmo na Queima das Fitas de Ciências da Comunicação, em 2022

“Uma preparação fundamental para o meu percurso académico”

Raquel Carmo fala da importância de participar num programa de investigação histórica no Secundário.

Por Raquel Carmo (*)

Foi numa aula de ‘História A’, algures no início do 12º ano, que tivemos de escolher os temas para um trabalho que viria a acompanhar-nos nos meses seguintes. Lembro-me de nem reconhecer a grande maioria dos títulos escritos no quadro. Ainda assim, e como sempre me interessei por temas relacionados com o feminismo e o papel ativo da mulher na sociedade, foi no MDM que o meu grupo se acabou por focar, dando vida ao “Movimento Democrático das Mulheres em Setúbal na década de 70”, realizado em conjunto com o Instituto de História Contemporânea (IHC), com o auxílio da nossa tutora Inês José (**).

Depois de entrevistas realizadas e transcritas, alguns percalços pelo meio, muito trabalho de pesquisa por vários livros e pelos arquivos do Jornal Setubalense, chegou o dia das apresentações destes trabalhos, realizadas na Biblioteca Pública Municipal. O nervoso miudinho fez parte do processo, mas, como tinha sido um trabalho muito nosso, de muito empenho e dedicação, fluiu de forma totalmente natural, mesmo que estivessem à nossa frente muitas famílias, colegas e professores.

Raquel Carmo e os colegas de grupo num momento de pesquisa para o trabalho sobre o Movimento Democrático das Mulheres em Setúbal na década de 70.

Aquele momento deu-me um grande sentimento de realização e foi uma preparação fundamental para aqueles que viriam a ser os trabalhos ao longo do restante percurso académico que ainda estava por vir.

A realidade é que a minha passagem pela Escola Secundário du Bocage, mais conhecida como Liceu de Setúbal, deixou-me com muito boas memórias e, consequentemente, com saudades, mas, acima de tudo isso, tenho plena consciência de que me ajudou a tornar-me na aluna e cidadã que sou hoje.

Em 2019 entrei no curso de Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. Durante os três anos que se seguiram, consegui desenvolver imensamente as minhas capacidades e aprender bastante, envolvendo-me noutros projetos em simultâneo. Aliás, um dos estímulos principais que me começou a ser incutido no secundário foi exatamente o envolvimento em diferentes atividades – como é o caso do programa de Iniciação à Investigação Científica do Laboratório de História da FCSH -, que me acrescentassem algo mais do que apenas o conteúdo programático das aulas.

Durante o período da licenciatura, fui membro da AIESEC, fiz parte da NOVA Debate e do jornal Nova em Folha. Mais recentemente, e aquando de já me encontrar na Pós-Graduação em Comunicação de Cultura e Indústrias Criativas, integrei a equipa de Produção do CINENOVA, o primeiro festival de cinema universitário português; sou colaboradora da Associação de Estudantes da FCSH (AEFCSH) e ainda realizei várias apresentações em escolas básicas e secundárias sobre igualdade de género, através da Equipa Pedagógica da HeForShe.

Eu acredito muito que a formação fora de contexto de sala de aula e os conhecimentos que fui adquirindo nesses momentos permitiram-me crescer muito e estar preparada para o ritmo acelerado que a vida académica exige. Foi exatamente o desenvolvimento do trabalho de investigação científica, de que fiz parte no final do secundário, que me deu a conhecer algumas ferramentas físicas e metafóricas que vim a necessitar nos anos que se sucederam. Saber como realizar trabalhos longos, ter um espírito crítico face ao passado e interessar-me, inclusive, pela história e realidade local cresceram muito com a participação neste programa.

Raquel Carmo e os colegas no dia da apresentação público do trabalho, na Biblioteca Municipal de Setúbal.

Além de tudo isto, eu sempre tive um grande à vontade em falar em público, algo que foi sendo comprovado em projetos como este no secundário e em outros que foram surgindo ao longo do tempo. Foi esse gosto por comunicar, a paixão pela História, ligada à Cultura e às Artes que me fez continuar a estudar nestas áreas e que me permitiu conseguir, igualmente, um estágio no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), que comecei há cerca de um mês.

No fundo, acredito que o percurso que tenho vindo a trilhar desde o secundário, onde incluo a participação no programa de Iniciação à Investigação Científica, tem sido muito gratificante e recompensador, na medida em que me tenho conseguido desenvolver profissional e pessoalmente, de tal modo que acredito que foi um começo imprescindível para descobrir a pessoa que sou hoje.

(*) Este artigo foi escrito no âmbito da parceria entre o Laboratório de História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH e o Jornalíssimo, com coordenação de Maria Fernanda Rollo e apoio de Susana Domingues.

(**) O Laboratório de História, Territórios e Comunidades (LHTC) é um projeto colaborativo do HTC com diferentes instituições da sociedade civil, desde escolas a bibliotecas, passando por museus. Deste projeto fazem parte diferentes programas, entre os quais o Programa de Iniciação à Investigação Histórica que procura transmitir aos alunos do ensino secundária ferramentas e metodologias de investigação em História. Os/as alunos/as de algumas turmas são desafiados a trabalharem, em grupo, ao longo de um ano letivo, um tema relacionado com a história do século XX. Para desenvolverem essa pesquisa, cada grupo é orientado por investigadores do HTC.

Foto de abertura: Raquel Carmo na Queima das Fitas de Ciências da Comunicação, em 2022

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