A Península Antártida, banhada pelas águas geladas | Foto: Jonathan E. Shaw/Creative Commons

A Terra tem mais um oceano: o Antártico

O reconhecimento foi feito pela National Geographic Society e traz água no bico

A questão sobre se o corpo de água que banha a Antártida é ou não um oceano não é de hoje e de vez em quando vem à tona: terão aquelas águas no sul do mundo caraterísticas tão específicas que as tornem dignas de uma designação própria? Ou deverão elas ser apenas consideradas extensões, ainda que bem mais frias, dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico?

Alex Tait, um destacado geógrafo da National Geographic Society é citado no site desta organização, que faz mapas há mais de um século (desde 1915, para sermos exatos), a resumir assim a questão: “é uma espécie de nerdice geográfica em alguns aspetos”.

Muitas e muitos cientistas já se referem ao Antártico como oceano há vários anos. No entanto, outros continuam a não lhe reconhecer esse estatuto. A falta de acordo fez com que o reconhecimento oficial deste quinto oceano tenha demorado.

Avanços e recuos

Por norma, para produzir os seus mapas, no que diz respeito a nomes marinhos, a National Geographic tem em conta as designações atribuídas pela Organização Hidrográfica Internacional (OHI). Esta Organização trabalha em conjunto com um grupo de especialistas das Nações Unidas para uniformizar os nomes a uma escala internacional.

A OHI chegou a reconhecer este oceano Antártico (Southern Ocean) em 1937, mas a controvérsia gerada na altura fez com que, em 1953, a designação tenha sido abandonada.

Matthew W. Chwastyk, and Soren Walljasper, NGM Staff. Eric Knight Sources: NASA/JPL; Green Marble

A partir de 1999, no entanto, uma outra organização – ainda que não de escala mundial -, o Conselho de Nomes Geográficos dos Estados Unidos da América, passou a usar a designação de Oceano Antártico, que agora a National Geographic vem acolher.

Uma corrente protetora

Face aos outros quatro oceanos já oficialmente reconhecidos – o Ártico, o Atlântico, o Índico e o Pacífico -, o oceano Antártico apresenta algumas diferenças. Desde logo, trata-se do único oceano que toca outros três e que “abraça completamente um continente, em vez de ser abraçado por eles”, explica também no site da National Geographic Society Sylvia Earle, bióloga marinha e exploradora desta organização.

Em vez de ter um continente a cercá-lo, o que define acima de tudo este novíssimo oceano é uma corrente – a Corrente Circumpolar Antártica. Esta flui em torno daquele continente, cercando as suas águas geladas e permitindo que a sua temperatura não aumente até ao nível dos outros oceanos que a tocam – o Atlântico, o Índico e o Pacífico, com temperaturas mais elevadas. A corrente permite, ainda, que o grau de salinidade do oceano Antártico seja mais baixo.

As caraterísticas particulares desta massa de água, agora designada também por oceano, fazem com que ela seja habitada por espécies que não se encontram em nenhum outro lugar do mundo.

Alertar para a preservação

Esta diferença ecológica registada no oceano Antártico foi o argumento principal dado pela National Geographic Society para atribuir o novo estatuto às águas geladas do sul. Mas a verdadeira razão que conduziu a Sociedade internacionalmente conhecida a dar este passo foi outra: a necessidade de chamar a atenção da população mundial para a importância da sua conservação.

Para Alex Tait, uma das melhores formas de se promover a conservação do Oceano Antártico é torná-lo conhecido das crianças, nas escolas, através da educação. Afirma este geógrafo que os alunos aprendem sobre os oceanos em função daqueles que vêm nos mapas. “Se o Oceano Antártico não estiver incluído, os alunos não aprenderão detalhes sobre como ele é e sobre como é importante”, observa.

Ter o Antártico como oceano nos mapas do mundo levará certamente a que mais pessoas saibam que ele tem um impacto fundamental no clima da Terra e que a pesca industrial de espécies como o krill ou o robalo do Chile nas suas águas ameaça o seu equilíbrio. E, logo, o equilíbrio do planeta Terra.

A decisão de que aqui falamos foi tomada a 8 de junho de 2021, o Dia Mundial dos Oceanos.

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