As ondas gravitacionais não são um bicho-de-sete-cabeças

Lemos toda a informação disponível no site da organização que fez a descoberta e fazemos-te um resumo.

Esteja lá onde estiver, Albert Einstein deve estar a repetir a sua famosa expressão de olhos arregalados e língua de fora (tirada no seu 72º aniversário, quando um fotógrafo profissional lhe pediu para sorrir). Desta vez, para transmitir espanto.

É que o físico alemão duvidava que algum dia fosse possível provar a existência das ondas gravitacionais, cuja existência ele previra através de cálculos. Felizmente, neste aspeto, o vencedor do Nobel da Física em 1921 não estava certo.

A tarefa não foi impossível, mas foi, de facto, bem complicada. Basta dizer que passaram cem anos entre a previsão de Einstein e esta descoberta. Além disso, foi preciso tecnologia muito avançada e uma equipa de quase mil cientistas, de 16 países, para confirmar o fenómeno físico.

ONDAS COM SUPERPODERES

Da Teoria da Relatividade, que o génio nos deixou, esta era mesmo a última parte que faltava comprovar.

Nós resumimos-te aqui a informação, mas se quiseres aprofundar toda esta questão vale a pena entrares no site da Ligo Scientific Collaboration (LSC).

A LSC é a organização de colaboração científica internacional (a tal que envolve quase mil cientistas de vários países) responsável por esta descoberta. Foi criada em 1997, precisamente com o objetivo de detetar diretamente ondas gravitacionais.

A razão pela qual há tanta gente e tantos recursos envolvidos na descoberta das ondas gravitacionais é simples. Os cientistas veem nelas um meio de obter novos conhecimentos sobre o Universo, a sua história e, até, quem sabe, a própria origem.

Digamos que as ondas gravitacionais são dotadas de superpoderes. Porquê? Porque para elas o universo é praticamente transparente, ou seja, a matéria e os campos gravitacionais que atravessam quase não absorvem nem refletem estas ondas.

UMA VIAGEM ATÉ À ORIGEM DO UNIVERSO?

Até hoje, os conhecimentos astronómicos provêm sobretudo de formas de radiação eletromagnética (como luz visível, ondas de rádio ou raios x). Estas formas, porém, não chegam tão intactas até nós, porque, pelo caminho, refletem e são absorvidas pela matéria que encontram.

Voltando às ondas gravitacionais, elas são de uma riqueza incalculável, ao trazerem consigo uma espécie de ADN. Nas ondas, vem inscrito o fenómeno físico que lhes deu origem. Assim, tendo acesso às ondas e à informação nelas contida, os cientistas poderão “viajar” até momentos muito mais longínquos de formação do Universo do que aqueles que hoje conhecemos.

Foi através de duas poderosas (e gigantescas) estruturas que a deteção direta de ondas gravitacionais, noticiada há dias, foi possível. Essas estruturas chamam-se ‘LIGO’ – a sigla, em inglês, para Observatório Avançado de Ondas Gravitacionais por Interferómetro Laser – e aqui em baixo tens a imagem de uma delas, em forma de ‘L’, sendo que cada uma das linhas que vês tem uma extensão de quilómetros.

As ondas gravitacionais foram detetadas por dois ‘LIGO’ situados nos Estados Unidos (um em Louisiana, outro em Washington) e foram produzidas, como se lê no comunicado de imprensa da LSC, “durante uma fração de segundo final da fusão de dois buracos negros que geraram um único e mais massivo buraco negro em rotação”.

DE VOLTA ÀS AULAS DE FÍSICA

Se estás a tentar recordar o que é a Teoria da Relatividade e o que são, afinal, as ditas ondas gravitacionais, damos-te uma ajuda para ativares a tua memória.

Na sua Teoria da Relatividade, Einstein deu novos contornos à Lei da Gravidade formulada por Isac Newton (lembras-te da história da maça que caiu à sua frente e o levou a observar a lua e a pensar na força gravitacional?), ao introduzir a dimensão espaço-tempo.

Einstein sugeriu que espaço e tempo estão estreitamente relacionados e, assim sendo, a força gravitacional deveria ser pensada em quatro dimensões: as três espaciais (altura, largura e profundidade) e o tempo.

Um dos exemplos usados para explicar esta questão é olhar para o espaço-tempo como um colchão. Tal como este se deforma com o peso de uma pessoa, o espaço-tempo é deformado por corpos com massa.

IMAGINAR, IMAGINAR…

Imagina, por exemplo, a tal fusão dos dois buracos negros que se detetou. Ao acontecer, este movimento do corpo com massa vai gerar as tais ondas gravitacionais e estas vão propagar-se à velocidade da luz e vão perdendo intensidade à medida que se afastam da origem.

A razão que levava Einstein a duvidar de que, algum dia, esta descoberta efetiva das ondas gravitacionais fosse possível, prendia-se exatamente com o facto de as ondas gravitacionais serem já extremamente fracas quando chegam até nós, aqui na Terra, dado que se produzem a várias centenas de anos-luz de nós.

Continuas baralhado? Esperemos que não, mas em todo o caso recordamos-te esta afirmação de Einstein que, de alguma forma, pode ajudar-te: “A imaginação é mais importante que o conhecimento”.

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