Um cheirinho histórico a São João

E nesta noite encantada/ Em que o Porto está lindíssimo/ Aceitem uma martelada/ Da redação do Jornalíssimo.

– O São João no Porto comemora-se há centenas de anos. No arquivo municipal da cidade, há um documento de 1485, onde se contabilizam os gastos, em reais, com a festa;

– Foi preciso esperar até ao século XX, no entanto, para ver o dia 24 de junho ser decretado feriado municipal pela autarquia portuense;

– O dia é do Santo, mas os festejos começaram por ser pagãos. Nesta altura do ano, os antigos celebravam o solstício de Verão. A Igreja terá adotado a festa como sua, mas as tradições não se perderam: saltar uma fogueira, lançar um balão ou beber água à meia-noite (quem diria…) são rituais cuja origem se perdeu no tempo;

– O São João é uma festa perfumada. Hoje reinam o alho-porro e o manjerico. No passado, a festa fazia-se, também, com cidreira, limonete e alfazema. Quem estudou as celebrações do São João, diz que há a crença de que, nesta noite, os elementos da natureza ganham poderes mágicos e, daí, terem lugar assegurado na festa.

– Os martelinhos juntaram-se ao dia de hoje há algumas décadas. Os primeiros eram pequeninos, não tinham mais de dez centímetros, e foram inspirados num saleiro/pimenteiro com centro em cerâmica e vidro a imitar fole. Ainda há alguns exemplares na Fábrica de Plásticos Estrela, em Rio Tinto, herdeira da Fábrica de Brinquedos Estrela do Paraíso, onde eles realmente nasceram;

– Os martelinhos começaram por fazer furor na Queima das Fitas do Porto, em 1963. Estudantes da organização queriam um brinquedo ruidoso para animar a festa e o dono da tal fábrica de plásticos sugeriu-lhes o seu “martelinho musical”. O sucesso durante o Cortejo dos estudantes universitários desse ano foi grande e os comerciantes decidiram voltar a vendê-los pouco depois, no São João;

– Alguns anos mais tarde, a Câmara do Porto achou que os martelinhos iam contra a tradição e foram proibidos. Havia multas para quem os fabricasse, vendesse e, também, para quem se atrevesse a levá-los para a festa. O caso foi parar a Tribunal. O dono da fábrica de plásticos queria ver os martelinhos de volta e, em 1973, o Supremo Tribunal de Justiça deu-lhe razão;

– Outro símbolo das festas são as quadras, muito ligadas a outro símbolo da cidade: o Jornal de Notícias. A primeira edição do concurso das quadras de São João do JN foi em 1929;

– Quanto aos locais da festa, a tradição foi mudando. Não deixa de ser curioso que um dos locais mais concorridos desta noite, Miragaia, tenha como padroeiro o São Pedro. Cedofeita, por exemplo, já foi local de passagem obrigatória para quem leva a sério as festas sanjoaninas, bem antes das Fontainhas.

A noite mais longa do ano no Porto é hoje, mas as comemorações ainda se prolongam por mais uns dias. Se quiseres ver o que ainda vai acontecer, aqui encontras o programa completo.

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