Jornalismo Imersivo: quando a tecnologia digital nos põe no local da notícia

A realidade virtual e aumentada já está a ser aplicada ao jornalismo, dando ao espetador a sensação de ser testemunha dos acontecimentos.

A melhor imagem do jornalismo imersivo é a de um jogo de computador de última geração, com cenários 3D, que nos dão a sensação de estar no centro da ação.

O “Projeto Síria”, da realizadora e jornalista norte-americana Nonny de la Peña, é um bom exemplo do que poderá vir a ser o jornalismo do futuro.

Graças a uns óculos de realidade virtual onde são projetadas imagens, o espetador encontra-se na cidade síria de Alepo, testemunha um ataque bombista na cidade e é levado, depois, para um campo de refugiados da guerra civil.

Ao contrário do que acontece num videojogo, no jornalismo imersivo as imagens digitais e as personagens são criadas a partir de modelos reais; o som é gravado no local do acontecimento; o espectador move-se por entre os cenários recriados, mas tem pouca ou nenhuma capacidade de alterar o rumo dos acontecimentos.

Os princípios de objetividade e imparcialidade, bem como os códigos de ética e deontologia pelos quais se rege o jornalismo convencional norteiam, também, o jornalismo imersivo.

Este está, no entanto, um passo à frente naquele que é sempre o objetivo de qualquer jornalista ao fazer reportagem: tentar colocar o leitor/ouvinte/telespetador no local do acontecimento, fazendo-o sentir-se uma testemunha dos factos que constituem notícia.

NOVOS PÚBLICOS

A jornalista e investigadora espanhola Eva Domínguez, autora do livro “Jornalismo Imersivo: a influência da realidade virtual e do videojogo nos conteúdos informativos”, define-o como “uma fórmula narrativa que procura conseguir a imersão no relato de não-ficção utilizando técnicas visuais interativas, dando ao usuário a experiência sensorial de estar no local dos acontecimentos”.

Eva Domínguez – que em dezembro participou, no Porto, no IV Congresso Internacional de Ciberjornalismo – vê nesta nova forma de fazer jornalismo um modo de chegar a audiências que, de outra forma, não se interessariam por determinados temas.

Um projeto de jornalismo imersivo exige muitos mais meios, não só técnicos como humanos: além do jornalista e do repórter de imagem, são necessários modeladores e animadores 3D, engenheiros de som, realizadores.

DESPERTAR CONSCIÊNCIAS

Esta “revolução digital” no jornalismo, poderá significar, também, uma revolução no campo da cidadania. Nonny de la Peña acredita que, ao deixarem de ouvir apenas relatos (escritos ou audiovisuais) e ao poderem passar a ser testemunhas dos acontecimentos, envolvendo-se emotivamente com eles, os cidadãos poderão ser levados a pensar mudanças que possam ajudar a melhorar o mundo.

A jornalista, que hoje integra o ‘Interactive Media Arts Department’ da Universidade do Sul da Califórnia, já viu pessoas a chorar ao assistir a alguns dos seus trabalhos de reconstrução em realidade virtual de acontecimentos.

No vídeo abaixo, podes ver uma entrevista (em inglês) com ela sobre jornalismo imersivo.

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