Sexta-feira 13: para muitos, a triscaidecafobia sobe de tom
Palavra estranha? Fica a saber o que significa e de onde vem a superstição das sextas 13. Em 2023 há duas. E festa garantida em Montalegre.
Uma sexta-feira 13 a abrir o ano, em janeiro. E outra quase a fechá-lo, em outubro. No máximo, pode haver três sextas-feiras 13 por ano. 2023 não faz o pleno, mas anda lá perto. Más notícias para quem é supersticioso, boas notícias para quem arrisca brincar com o azar e faz desta coincidência, entre dia do calendário e dia da semana, festa.
No município de Montalegre, por exemplo, não há sexta 13 que não se celebre a rigor e se desafie a superstição. São milhares os turistas que chegam de todo o país (e até da vizinha Espanha) a esta vila transmontana para participar na famosa “Noite das Bruxas”.
Esconjurar os males
Com turistas e locais vestidos a preceito, o ambiente é mágico. Quem tem medo do dia, faz terapia de choque: não há, por exemplo, como comer sem encontrar talheres cruzados, ninguém escapa a passar por baixo de escadas ou ao lado de teias de aranha e espelhos partidos, e é praticamente impossível entrar num espaço interior onde não haja um guarda-chuva aberto.
O ponto alto chega sempre quando o dia se faz noite: um espetáculo ao ar livre, com o castelo como pano de fundo, a que se segue uma simbólica “queimada” (cerimónia em que uma bebida alcoólica, colocada numa grande taça ou pote, é posta a arder, ao mesmo tempo que se faz uma espécie de reza), onde um padre de verdade – o icónico Padre Fontes – exorciza todos os males.
Triscaide… quê?!
Mas vamos lá à palavra sobre a qual estamos a fazer suspense: triscaidecafobia. Existe mesmo, vem no dicionário. O Priberam, por exemplo, descreve-se assim: “aversão patológica ao número 13”. Pesquisar a raiz etimológica de uma palavra também ajuda sempre: em grego, 13 escreve-se “triscaideca” e “phobos” é medo.
Agora que já sabes de que sofre quem fica arrepiado por se cruzar com o número 13 (a triscaidecafobia pode mesmo ser considerada uma doença), imagina o que pode significar para essas pessoas juntar um número 13 com uma sexta-feira (quem é supersticioso, não costuma acreditar apenas numa superstição…).
A superstição associada à sexta e ao número 13, por acaso, tem até a mesma origem. Se pensaste na Última Ceia, acertaste. É, pelo menos, essa a explicação para estes medos que reúne maior consenso. Como sabes, eram 13 à mesa e Jesus Cristo foi crucificado. E o episódio bíblico ocorreu justamente numa sexta-feira.
Quem diz não ter pelo menos uma superstição, mente?
No século XXI, apesar do triunfo da ciência, as superstições, que não têm qualquer fundamento científico e pertencem ao domínio do irracional, continuam presentes na vida de muitas pessoas. Thomas Fernsler, um professor de psicologia na Universidade de Delaware (E.U.A.) que se tem dedicado ao estudo das superstições, defende que 95% da população tem, pelo menos, uma superstição. As que não têm “mentem”, afirmou ele num comunicado divulgado pela agência de notícias Newswise.
Se a percentagem avançada por aquele professor será difícil de confirmar, há factos que mostram que as superstições e, em especial aquela ligada ao número 13, são levadas bem a sério: hospitais em que não há quarto ou cama com o número 13, cidades que não atribuem o 13 a nenhum número de porta e prédios que não têm o 13º andar. Isto já para não falarmos nas pessoas que recusam comer numa mesa onde haja 13 lugares.
E, a propósito, conheces a canção de Stevie Wonder “Superstition”? É talvez a música mais conhecida dedicada ao tema. Foi lançada já em 1972 e é crítica com quem acredita em superstições. O refrão reza assim: “When you believe in things/That you don’t understand/Then you suffer/Supersttion ain’t the way, no, no, no” (Quando acreditas em coisas/ Que não entendes/ Então vais sofrer/A superstição não é o caminho).
Foto: Dalibor Levíček/Creative Commons; Município de Montalegre/Facebook.